quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Disritmia

Eu não sei quem te deu o direito de pensar que você podia usar minha vida pra mudar a tua. De me emprestar esses braços gelados, pra fingir uma proteção que nunca existiu. Eu não sei o que você pensou quando decidiu afogar meus demônios, calcular meus passos, me fazer responsável pela sua dor, pelos erros que você nunca assumiu, e sempre jogou nas minhas costas pra se sentir mais leve. Ou mais humano, ou mais digno de viver entre essa gente cheia de abraços e de sonhos que você nunca teve.

Essa minha vida roubada, essa solidão, esse desejo de sobreviver são só meus. Minha dor é minha fé, e você não tem o direito de curar-la. Não tem o direito de lavar uma alma que você nunca se esforçou em conhecer, porque a tua própria tava cheia de merda. São os dramas e desejos que me enchem de vontade, me enchem dessa graça que você não entende, de amor que você não conhece.

É que a tua perfeição desesperada deixa um rastro de equívocos e desejos não resolvidos, e todos os dias você os enfia a força dentro do armário pra te dar um pouco de paz. Só não sei com que direito você me deu essa chave. Eu que não sei lidar nem com os meus próprios, escancarados na minha cara, e você supõe que eu tenho que encarar os teus, te livrar dessa desgraça que não é minha.


Eu não vou fugir do mundo. Meu sangue é meu.
Esse coração vagabundo é todo seu, não tenho nada que exorcizar.