quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Entressafra.

Eu tinha tudo isso. Uma casa imensa, essa gente, essa falta de cor. Essas almofadas gigantes que me separavam dessa euforia que sabe-se lá porque atinge as pessoas no verão. Eu tinha minha semana de tédio, meus fins de semana de sono e minha falta de esperança. Meus livros, meus filmes que eu sempre usei como roteiro de como sobreviver. Tinha a música, e muito menos de dez razões pra parecer nova se alguém precisasse. Eu tinha essa dor. Que na verdade nem era uma dor. Era só o movimento continuo em direção a nada, o caminho ritmado até o eu-não-sei-o-quê. E que? E quem poderia julgar? Nada é melhor que ruim. Melhor que desespero, depressão, raiva, ódio, melancolia, eu acho. Melhor que chegar e não ter lugar pra você.

E agora? A espuma tá toda espalhada no chão no meio de tanto sol nesse quarto antigo. E meu último travesseiro você me rouba toda noite enquanto me empurra e vira pra parede pra dormir até o mundo acabar. Já não distinguo dia ou noite, e só conheço urgência. E serenidade. E saudade. Meus espelhos tão todos quebrados mas dessa vez não é assim tão pesado. Porque minhas cicatrizes ainda estão no mesmo lugar de antes. Mas se você parece não se importar, por que eu deveria?

Nada é diferente. Tudo está exatamente no lugar que não deveria estar nunca. Eu estou.


[Guess we'll have to wait and see.]

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