Não é você.
Obviamente não é você.
É só insônia, e dor de estômago. E medo. Ah, grande coisa. Como seu eu existisse sem esse medo gigante, ou como se algum dia eu tivesse tido um sono tranquilo e regular. Não.
Não é a lembrança das tuas mãos quentes nesse inverno de merda que nunca acaba. Nem o telefone que não toca, ou toda essa gente que entra e sai dessa casa, e que nunca é você. Não é seu desprezo, seu desinteresse. Nem a porta fechada que existe entre a gente, entre o que sobrou do que "um dia podíamos chegar a ter sido". Não é o seu cheiro nas minhas roupas. É só minha cabeça, pensando demais, querendo demais. Minha ânsia em te ter aqui, em te obrigar a voltar, em gritar na varanda essa falta que eu sinto. Não, não é você.
É só solidão. Só coisa que eu invento sozinha pra encher esse vazio tão óbvio. Pra encher esse quarto tão cheio de você. Não, não é você. Cheio só de invenções minhas. De desejos, de vontades, de distâncias, que nem sempre são físicas, mas que nunca diminuem.
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