sábado, 5 de outubro de 2013

Dez anos. Ou dez dias.

Dez anos passaram, e eu lembro daquela noite melhor que minha mente velha e cansada podia suportar. Lembro do barulho do teu carro triturando a areia na porta da minha casa, da campainha antiga, que tocava engraçado. Lembro de não querer abrir, de pensar que se eu nunca mais te visse, isso nunca ia acabar. Isso, em que a gente sempre insistiu e sempre foi tão claro. Isso que me fazia sobrecarregar meus neurônios e meu fígado em dias alternados, mas que por alguns anos me fez rever todas as minhas certezas.

Lembro da força que você bateu a porta quando você gritou teus piores planos. Cruentos, venenosos, como se você quisesse cravar essa faca o mais fundo que você conseguisse. Como se teu desprezo não tivesse sido suficiente pra destroçar o que tinha sobrado da minha paz. Lembro dos teus olhos vermelhos, que provavelmente nem estavam vermelhos, mas é assim que eu lembro deles. Porque a única coisa que você tinha no rosto era fúria, era o resultado da soma de todos os pensamentos equivocados que você já teve na vida, plasmados numa cara que agora parecia tão diferente da tua.

E hoje, depois de dez anos, ainda tenho tuas coisas guardadas. Tuas fotos, tuas roupas, e essa coisa gigante que eu tenho dentro de mim, e que por mais que eu negue todos os dias, segue sendo tua. Todas essas coisas que você esqueceu aqui sem querer, e nunca mais reclamou.

Dez anos e eu nunca mais te vi. Nunca mais soube dos teus planos de mudar o mundo. Mas acho que você, sempre acostumado a ganhar, perdeu essa. Porque fora minha pele marcada, e esses fios brancos que insistem em aparecer, faz dez anos que meu mundo segue o mesmo.


Why must it drift away and die?




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