terça-feira, 28 de maio de 2019

misma sed; distinto paladar

Teus olhos me vendo chegar naquele bar desconhecido. O mesmo olhar com que anos atrás eu encarei o outro amor da minha vida; amor que durou uns meses e me fez não dormir as mesmas noites que você, nessa mesma cidade pequena onde chove todos os dias.

A mesma chuva que caía quando eu fui embora, e que me molhou quando eu voltei e me encontrei em casa enrolada no teu braço; o mesmo braço que semana que vem vai descansar em outras pernas, e guiar tuas mãos pra devagar mudar outras vidas, do mesmo jeito que eu planejei há tanto tempo, deitada em outras camas. 

As tuas piadas ruins, iguais as outras que eu contei naquela noite no palco, observada por mil outros olhares, quando arrebentou a corda da guitarra; guitarra que hoje toca pra você me abraçar e dançar comigo nesse terraço apertado e cheio de gente, no meio da mesma cerveja que tu ontem dividia com outras bocas.

A boca minha que dividiu tantos silêncios e hoje estranha a tua, irreconhecível, que grita a vida com outras vozes. Mesma vida que eu dei e recebi nas noites de verão do sul da América do Sul, enquanto você caminhava no inverno do mesmo bairro, compartindo com outra gente, a coberta e o sonho de voltar pras manhãs quentes dos trópicos.

Voltar pra aquelas manhãs, onde encontramos e perdemos em tantas outras pessoas os nossos caminhos; caminhos que se esbarraram e se dividiram naquele bar, que agora pra nós, é o mesmo.


[nada es mas simple; no hay otra norma.]