sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Talvez a última.

A última vez que eu te vi, não foi na verdade a última. Mas nós sabíamos que era o fim. Ninguém falou sobre isso, e muito ao contrário, sorríamos e não pensávamos. Só sabíamos, mas isso não fazia mal, nem era triste. Era só como tinha que ser.

A última vez que te vi, não a última realmente, esquecemos que tinha um mundo para além dos limites que imaginamos. Mas quem se importa? Fugimos do calor primaveril do Rio de Janeiro, andamos de mãos dadas na chuva, ficamos horas falando bobagem. Todos olhavam sorrindo, mas nós sabíamos. Só nós. Em cada abraço, em cada copo, o gosto de despedida era mais forte. Mas isso não era importante.

A última vez que te vi, ou a penúltima, você salvou minha vida. Mas e daí? Isso não é um privilégio seu. Eu constantemente preciso de alguém pra me tirar da poeira e dos cacos onde insisto em me enfiar. Eu só te salvei do tédio. Salvei tua semana da rotina casa-trabalho-computador.

A última vez que eu te vi, ou talvez não tenha sido a última, foi sem querer. Assim como foi sem querer o querer e o não-querer. Era amor, entrega, carinho. De verdade. Mas com prazo pra vencer. Era a dança de uma valsa só, que encanta, alegra e acaba. Ninguém imaginava. Mas nós sempre soubemos.




Não há mal pior do que a descrença. Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão. [Como dizia o poeta - Toquinho e Vinícius]

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Sobre ser feliz.

Ninguém é feliz sozinho.

Não porque somos seres sociais, que devem viver em comunidade ou algo assim.
Não somos felizes sozinhos porque somos confusos, cheios de imperfeições e altamente falhos. E viver sozinho pressupõe que suportamos de bom grado a nossa própria companhia. E nós não suportamos.

A felicidade só existe quando alguém te ouve pacientemente confessar sua vida medíocre, seus erros e defeitos e te ainda assim te olha com afeição. E te abraça como se o mundo acabasse ali, assim, sem um motivo aparente.


É preciso se preocupar mais com outro alguém do que com você pra se sentir inteiro. Ou com outros alguéns. Querer proteger, aceitar escolhas e caminhos diferentes. Mesmo que a distância exija algum esforço. Ser feliz é saber que estão felizes, e só.

Porque, de qualquer jeito, o mundo é grande, e as lembranças não morrem.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Eu menti pra você.

Por favor, não me culpa. Eu minto pra mim todos os dias. Não por querer, mas por ser várias em um só corpo. Uma reunião de impulsos nervosos compartilhados por várias almas.

Desculpa se exagero, mas tudo isso faz com que eu sinta demais, que eu fale demais, que eu seja demais. E somo a isso minha irresponsabilidade, minha impulsividade escondida pra não te afastar.

E não quero te afastar.

Eu não sei porque, nem o que é.
Mas existe. E me anima a existência nos dias quentes do Rio de Janeiro.

Só peço que fique. Sem nenhum motivo, sem nenhuma certeza.
E não fica com medo. Eu só machuco a mim mesma.