domingo, 7 de abril de 2019

quis partir você.

Então eu, sempre tão aberta ao mundo, me escondi. Tinha certeza que se eu contasse minhas teorias sobre a magia e o mundo, eu nunca mais sairia dali. Daquela fenda no espaço-tempo onde a gente foi parar sem querer e depois de querer tanto, e que todos nós sabíamos que não ia durar mais que um segundo. Eu sabia que se você me contasse dos teus planos, ou dos teus livros preferidos, eu ia ficar ali perdida pra sempre, confundindo o barulho do encanamento velho com música e esperando qualquer sinal que me convencesse que minha loucura era sã.

Eu me esforcei pra, no dia seguinte, não lembrar das tuas promessas apressadas, despejadas em cima da mesa depois de uma noite de cigarro e cerveja. Ou pra achar normal teu braço apertando a minha cintura todas as vezes que voltávamos pra casa. Eu ri dos nossos desencontros e evitei as conversas de madrugada pra não me trair e ficar. Quis evaporar essa vontade, naturalizar os teus olhos me seguindo todas as vezes que eu entrava na sala.

Então eu fui embora. Porque todas as vezes que eu fico, eu me esqueço e esqueço que no fim eu termino lidando com essa falta enorme. Termino vendo todas essas pequenas coisas se perdendo, como um quebra-cabeças cruel que jamais termina de encaixar. Não me recupero nunca e passo o resto dos dias buscando nessas cidades mal iluminadas alguém que sorria como você, pra diminuir esse aperto que eu sempre vou sentir.

Me acostumei a ser furacão. Me acostumei a não conseguir apagar o incêndio que eu mesma provoco e a queimar até o final. E me queimei tanto, que agora só me sinto velha e cansada. E cheia de manchas roxas e pedaços faltando. Cheia de espaços vazios que eu queria encher de vontade como sempre antes de chegar até aqui. Cheia de medo que eu queria não ter, pra poder te contar que meu corpo ainda tem o formato do teu, e que vou deixar a água do mate esquentando, por se, mesmo assim, você quiser chegar.








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