Você nunca respondeu minha
mensagem. A gente tava planejando uma viagem junto, lembra? Uma viagem não, uma
visita. Você ia aproveitar essa greve louca pra vir sentir frio do lado de cá.
E pra gente falar da vida, botar uns sambas loucos pra tocar e fingir que tava
no Rio que a gente aprendeu junto a amar. Fingir que era carnaval, e que a
gente tava de férias (férias simuladas pra tu que gostava de lembrar que era da
classe proletária). Por aí a gente ia falar de política. Falar, porque contigo
eu não discutia. Engraçado, né? Logo a gente que discutia com todo mundo..
E daí tu resolveu largar a gente.
Me obrigou a voltar, sem estar lá. E nossos problemas, exaustivamente
discutidos nas noites insuportavelmente quentes de Niterói, deixaram de fazer o menor sentido. Muita
coisa deixou de fazer sentido. Qual é o samba que toca agora? Porque a verdade
é que eu tenho medo de ter férias. Medo de esperar você ligar pra me levar pro
Blues de Quarta Feira. Porque eu sei que eu vou esperar. E vou ter que me
contentar com a lembrança do verão passado. Do carnaval passado, dos anos
passados. Do passado. Dessa lembrança que não era lembrança até essa ser a
única opção.
Um comentário:
Ah, a saudade... Tem um poder que nem a gente entende direito...
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